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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Assimetrias

Eu seguia as chamas que brilhavam no chão branco, via suas formas sempre desiguais e agitadas; sentia um contra-baixo invadir grave minha cabeça e fazer meu corpo acompanhar o ritmo; atravessava o salão enevoado por um cinza mentolado quase doce ao respirar, onde suas brumas, longas e dançantes, perseguiam meu copo que se avermelhava contra o fogo; e como já era tarde... e como fazia frio... Eu era um náufrago, perdido na ilha de mim, conversando baixo com meus fantasmas e observando, distante, o mundo inebriante que pulsava.
          Então percebi seus olhos, escuros e profundos, convidando-me para um abraço. Meu coração acordou com um pulo e fez meu sangue correr em alvoroço; senti o calor de minha alma, recolocada no lugar após longos dias de ausência; a música mudou, a lareira estalou alto e aceitei aqueles braços, mais tarde transformados em lábios, mãos, olhares e mistérios. Fui levado para outro lugar, um país onde o tempo não passa e tudo dura para sempre. Naquela noite, e até hoje, seu sorriso busca meus pensamentos sem se importar com qualquer relógio maldoso; atravessa meu mundo como quer: lento e brando em alguns momentos, célere e feroz em outros; envolvendo-me na consciência de que é eterno.

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