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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Os Girassóis

Em sua pequena vida, que era, mas certo de sua plácida existência, pensava nos Onze deles, heliotrópicos, que em Espanha giravam áureos, da manhã ao ocaso, como carregadores da boa sorte. Nem por um segundo mais, um instante que fosse, quis segurar em suas pequenas e alvas mãozinhas aquelas pétalas que, de outros tempos, quase imemoriais, traziam tantas lembranças.
          Pensou ouvir outra vez os ritmos cubanos de uma rua calçada; girou no lugar embalado pela rumba mais hermosa de um já ido Moisés Simons. 'Ah, onde há ido você, que não deixa meu coração em paz?'. Tão caros sentimentos escondiam-se profundamente na carne, encerrados por horas mecanicamente contadas na parede. Piscou uma ou duas vezes, depois foi-se dormir.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Luta do Século!

Senhoras e senhores, temos aqui a imperdível luta de Keynes contra Hayek. Aproveitem. Para os economistas - e, também, administradores de empresas, por que não - de passagem aqui no blog, favor comentar qual das duas teorias mais lhes agradam.


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Zeitgeist

Assistam e pensem um pouco.
Coloquei a parte 2 deste documentário, Zeitgeist, que levanta questões, no mínimo, interessantes.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Viva: uma maçã, um violão e uma sombra no verão

O Sol, o céu azul, o vento quente de um inverno que se pensa verão; é assim que tudo está hoje; um mundo inteirinho convidando pra ser aproveitado. Mas e quem pode sentar embaixo da sombra de uma árvore e ler um livro? Um louco, claro. Um vadio, alguém que não tem o que fazer. Mas, porque diabos a sociedade condena fazer algo tão simples!? Quem foi o filho da mãe que prendeu todo mundo no trabalho o dia todo?
          Eu tenho dois hamster que passam o dia trancados em uma gaiola e correm nas rodinhas sem sair do lugar; eu tenho amigos e familiares que passam o dia trancados no trabalho e fazem isso há anos. Oh, que comparação horrível! E tem algo pior, algo mais perverso que o barulho da fonte do computador (como disse um amigo meu): a maior parte das pessoas que conheço reclamam disso. Pensam que a vida está nos sendo roubada, mas ninguém, nem apenas um, consegue escapar disso.
          Existe algo de muito errado em levar a vida assim. Eu quero ser livreeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Assimetrias

Eu seguia as chamas que brilhavam no chão branco, via suas formas sempre desiguais e agitadas; sentia um contra-baixo invadir grave minha cabeça e fazer meu corpo acompanhar o ritmo; atravessava o salão enevoado por um cinza mentolado quase doce ao respirar, onde suas brumas, longas e dançantes, perseguiam meu copo que se avermelhava contra o fogo; e como já era tarde... e como fazia frio... Eu era um náufrago, perdido na ilha de mim, conversando baixo com meus fantasmas e observando, distante, o mundo inebriante que pulsava.
          Então percebi seus olhos, escuros e profundos, convidando-me para um abraço. Meu coração acordou com um pulo e fez meu sangue correr em alvoroço; senti o calor de minha alma, recolocada no lugar após longos dias de ausência; a música mudou, a lareira estalou alto e aceitei aqueles braços, mais tarde transformados em lábios, mãos, olhares e mistérios. Fui levado para outro lugar, um país onde o tempo não passa e tudo dura para sempre. Naquela noite, e até hoje, seu sorriso busca meus pensamentos sem se importar com qualquer relógio maldoso; atravessa meu mundo como quer: lento e brando em alguns momentos, célere e feroz em outros; envolvendo-me na consciência de que é eterno.

sábado, 25 de junho de 2011

02:13 a.m.

Quantas sensações o frio da noite ainda traz. Minha alma mergulha, lenta e profundamente no seu ser; por distração qualquer sua mão rouba meu coração inteiro; arranca-o de uma vez só e o toma para si. Restam-me as lembranças do seu pulsar: batidas no vazio que reverberam em cada centímetro do meu corpo e afundam aquele espírito ainda mais. Pergunto-me se, por pelo menos um dia, impelirá minha vida outra vez.
          Não há defesa para tal ataque. Aqueles olhos negros têm sua magia. Rendo-me, exatamente como fiz e como faço ao toque dos teus lábios. Ah, que grande pesar leva para longe a minha paz! Algumas dúvidas cheias de lágrimas não são suficientes? Perdoe-me, claro, mas bem sabe que o coração já não é mais meu e anda distante daqui. Corre louco decerto, frenético e ansioso, mas sem que possa trazê-lo de volta.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Inverno do Coração

Entre sorrisos de conveniência e boas conversas com os amigos, sempre há uma memória que salta no ar, dançando naquele seu ritmo de saudade. Não ouso fitá-la por muito tempo, ainda não; baixo os olhos, continuo o assunto, tento disfarçar e sinto o vinho descer quente pela garganta para desfazer o nó deixado pelas lembranças.
          Mas a memória é persistente, viva demais para ser ignorada. Sua melodia me envolve e tento manter o controle. A alma tampouco suporta aquela música e me cobra explicações. Será que não tenho mais paz?
          Busco a felicidade noutros lugares e tudo me leva pensar que simplesmente a perdi, junto, quem sabe, com aquele amor. Me encontro perdido em pensamentos, topando com um ou outro fragmento de ti no frio das noites. Acho que amores jurados não duram tanto assim. Deve ser quase novembro, mas ainda faz inverno no meu coração.

sábado, 21 de maio de 2011

O Fim do Mundo!

Caros amigos, como todo mundo já deve estar comentando e vocês bem sabem, diz que hoje o mundo irá acabar. Foi noticiado na UOL há alguns dias (http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2011/05/10/ult1766u41650.jhtm) que um movimento cristão americano tem convicção que hoje, 21 de Maio de 2011, tudo vai pro brejo. Segundo eles, quem garante isso é a própria Bíblia, pois, através de várias interpretações de Harold Camping, o presidente do grupo, chegou-se à conclusão que encontraremos o fim dos tempos ainda hoje.
          Eu jamais perderia a oportunidade - única, até - de postar no meu blog extamente no dia do fim do mundo! :D E é só pra registrar o evento mesmo, um abraço galera!

Para quem quiser ler mais sobre o assunto, aqui está o link do movimento dos caras (em português): http://worldwide.familyradio.org/pt/

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O Milagre da Multiplicação dos Peixes (especialmente das garoupas)!

Há alguns dias o jornal Folha de S.Paulo publicou uma matéria apontando as vultuosas compras de imóveis realizadas por nosso ministro-chefe da Casa Civil, o glorioso Antonio Palocci. Dentre outras coisas, observou-se que o patrimônio pessoal do ministro foi ampliado cerca de 20 vezes no período de 2006 a 2010. Diante desse fenômeno da prosperidade pessoal, deputados opocisionistas abriram um requerimento pedindo que Palocci fosse ao Congresso para falar de sua evolução patrimonial.
          Sem surpreender ninguém, nesta quarta-feira (18), os deputados votaram e acabaram por rejeitar os requerimentos que cobravam explicações do ministro. Mas então você, cidadão brasileiro de boa memória, pensa: este Palocci não é o mesmo que foi denunciado por coisas como formação de quadrilha, desvio de dinheiro público e adulteração de documentos? Digamos que sim, seja este mesmo o cara que agora tem um dinheirão em mansões, carros e casas. Sem dúvidas, pensam os deputados, ele aprendeu a lição e a fortuna é fruto de uma longa carreira de trabalho e determinação, e não de qualquer coisa ilegal. Claro.

sábado, 14 de maio de 2011

Estranhos

          Flores mortas descoloriam o jardim. Enquanto passava, apontou para uma qualquer:
          - Eram jasmins, mas morreram, sabe.
          Pensou ouvir um comentário sobre como eram bonitas nas estações quentes. Destrancou a porta com um barulho grave e observou os fantasmas que se moviam tristes pelas paredes. Reconheceu uns dois; velhos e tranqüilos companheiros.
          - São gente muito simples, não te fazem mal. Entra – falou, apontando para dentro da casa, quando sentiu o espanto do outro. Deixou a porta entreaberta e um pouco da luz pálida daquele dia penetrou na sala. Imagens frias de velhas fotos pularam dos porta-retratos e correram para baixo dos sofás e móveis, em busca de abrigo.
          Ele atravessou o tapete exageradamente geométrico e foi para a cozinha. Descobriu as xícaras e preparou café. As mãos tremiam em freqüência atônita no caminho de volta e, se carregasse alguma bebida, tudo ficaria pelo chão; pousou as xícaras, empoeiradas e cheias de lembranças de lábios e mãos, em cima da mesinha da sala. Procurou um lugar no sofá para três.
          - Vivo aqui. É calmo.
          - Ainda vive?
          As palavras o surpreenderam. Não esperava por nada. Estranhou. Duvidou. É claro que vivo! Pensou com raiva.
          - Você já me parece estranho. Por que veio?
          Nem um sussurro sequer. Sorriu ao encarar o silêncio. Tomou outro gole do café amargo. Esperou, ainda, por mais algumas palavras, mas algo nele sabia que não as ouviria.
          - Por favor, vá embora – e já se viu levantar e passar pela porta, trancando-a antes de chegar ao portão enferrujado. Da janela do segundo andar alguém acenava em despedida. Retribuiu apenas com o olhar e partiu.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Flores no Quarto

A porta abriu devagarzinho, como se aquele que chega tomasse cuidado pra não despertar alguém lá dentro. Contudo, ele sabe que aquilo é em vão; mesmo assim não perde o costume. Entra no quarto e caminha com os olhos fixos na figura imóvel em cima da cama. Ajeita o lençol que não precisava ser arrumado. Nunca precisa, mas ele o faz. Sempre está impecável, nenhum movimento desmancha aquela ordem. O recém chegado contempla o rosto inexpressivo sobre o travesseiro branco. Branco! Tudo é branco, pensa com desgosto.
          Senta-se perto da janela, o mais longe possível dos aparelhos que não param de zumbir. Abre o jornal que trouxera e começa a ler desde a última página. Lê tudo. Cada palavra. Vê, em um canto, as flores murchas outra vez e faz uma nota mental: flores novas. Sufoca as lembranças que a imobilidade da cena traz, antes que com elas venham as lágrimas. Procura pelo relógio de parede e descobre por quanto tempo esteve ali; diz um até logo que ninguém ouve, enrola o jornal e vai para casa, da mesma forma que fez nos últimos dois anos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O Espelho

Certa vez, em uma de minhas muitas andanças pelo mundo, encontrei uma bela vila aos pés de uma imensa montanha. Caminhei durante algum tempo por suas ruas de terra batida, mas, apesar de ser dia e o Sol brilhar forte, não havia ninguém por lá. Não avistei crianças brincando ou senhores fumando nos bancos. Sequer topei com algum cão vagabundo. Já havia decidido ir embora quando pensei ter ouvido alguém chamar por meu nome. Julgava que a voz teria vindo de uma pequena casa de madeira perto de onde estava. Olhei com curiosidade: era um lugar modesto, muito igual à qualquer outra vivenda; tinha janelas com tinta descascada, alguns degraus e tábuas do assoalho da varanda já lascadas; e a porta, de madeira tosca e pouco enfeitada, rangeu e moveu-se com o vento. Cheguei mais perto e bati algumas vezes antes de entrar. Tudo era silêncio; uma quietude densa que acompanhava o bailar da poeira no facho de luz que havia adentrado pela porta aberta.
          Qual foi minha surpresa ao encontrar, nos fundos da sala, um homem magro, maltrapilho e barbudo, dentro de um espelho! Cumprimentei-o cordialmente, e o sujeito fez o mesmo. Tinha muitos bons modos. De início, conversamos sobre coisas triviais: se chove ou faz sol, frio ou calor, coisas assim. Quando o assunto já estava por morrer perguntei o que ele fazia, mas o coitado respondeu que, simplesmente, vivia por aí. Falou também que não tinha destino em suas andanças, não sabia o que fazer; andava pelo mundo em busca de sua missão, mas ainda não sabia o que era, pois de certo não a havia encontrado.
          Não alongamos muito mais a conversa. Ri dele mais tarde. Pobre homem, perdido no mundo e nos ideais. Quanto a mim, juntei minhas coisas e fui para outro lugar.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Líbia: uma velha história

O site de notícias G1 trouxe a seguinte manchete no dia de ontem: "Obama diz não descartar hipótese de armar rebeldes líbios contra Kadhafi". Isto é muito parecido com algo já ocorrido na história recente de guerras americana. Parece mais um ciclo, um modo de agir que se repete como em uma fórmula dada; pronta.
          Em 1980, o Iraque atacou o vizinho, Irã, com o intuito de anexar uma área de maioria árabe - os iranianos são de maioria persa. Como no Irã havia se instalado um governo islâmico xiita, e isto representava ameaça aos países ocidentalizados, os EUA armaram o exército iraquiano para a batalha. Resultado: o Iraque não conseguiu conquistar o território e endividou-se. Contudo, devido à ajuda americana, acumulou um gigantesco arsenal. Depois disso, em 1990, houve a Guerra do Golfo e tudo o mais: Estados Unidos contra um exército armado por ele próprio.
          O que vemos agora é muito próximo ao que ocorreu no Iraque. Coloquemos desta forma: os EUA armam os rebeldes; os rebeldes derrubam o regime do ditador Muammar Kadhafi e tomam o poder; um rebelde influente e apoiado por alguma força econômico controla o governo e, de certa forma, torna-se um novo ditador; anos depois, contrariando aquilo que os EUA ditam, o novo e reformado governo Líbio ataca civis opositores; assim, os EUA se lançam em guerra novamente, e contra forças que carregam armas fabricadas na América. Outra vez.
          A indústria bélica possui grande importância na economia americana e, portanto, nunca pode parar; seja por petróleo ou para seguir com o que o capitalismo pede em sua manutenção.

link: http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2011/03/obama-diz-nao-descartar-hipotese-de-armar-rebeldes-da-libia-contr-kadhafi.html

sábado, 26 de março de 2011

Uma mensagem ao povo brasileiro!

Estávamos lá, no terceiro dia do Caminho Inca, observando a paisagem do alto do mirador de Phuyupatamarca, quando nossos amigos argentinos surgem... e deixam uma mensagem: cuidado com o Messi! huhuashusahuas

terça-feira, 22 de março de 2011

A Esquina

Em uma esquina qualquer da história ainda vivia um pobre espírito. Estirava-se sobre as pedras sujas do passeio, dividindo a cena com um velho poste de ferro, cuja lamparina havia muito não ganhava óleo e fogo. Assim, luz tampouco poderia brilhar. Anos antes, em noites quase esquecidas, muitos caminhavam por aquelas ruas. Havia cantoria, vozes em algazarra e festa. Havia serenatas, declarações de amor e também de ódio. Mas este foi outro tempo, do qual a forma jogada ao chão também participara. O futuro daquela época trouxe o abandono – a escuridão. Restaram ali apenas os tristes, os saudosos e os quase-mortos.
          Não fosse o olhar atento de quem, após entrar na rua errada, aperta a visão quando a treva se adensa, a figura da esquina não seria sequer lembrada. Aquele que a encontrou só pôde ouvir as últimas palavras; os lamentos de uma vida atirada pelos cantos; congelada tantas vezes embaixo de varandas que saltam sobre o povo miúdo das cidades.
          Em poucos segundos tudo desapareceu dentro da nota final da morte. A criatura extingui-se, e com ela levou seu mundo e suas lembranças. Sobreviveria por mais alguns dias apenas na memória deste que, por erro e acaso, assistira o termo da existência. Impressionou, por certo; causou espanto, nojo e medo; porém, o tempo e a indiferença trataram de apagar o que ainda ousava restar. Somente a glória de poucos desafiaria a extensão da eternidade. Aquilo que põe à prova o humano – que afirma ser isto mesmo – nunca existiu.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Keynes vs. Hayek!

Rap - ou sei lá o que - dos economistas!
Caso as legendas do vídeo não apareçam, clique naquele botãozinho escrito 'cc' na barra de controle do vídeo - onde tem o play, o volume, etc.

terça-feira, 15 de março de 2011

O Tempo

          “Desde quando o tempo é constante?” Perguntou ao relojoeiro, quase ofendido. “Desde sempre, ora! Desde quando o mundo se tornou mundo.” O outro homem riu da resposta; tirou o chapéu e, pela janela, contemplou Paris mais uma vez. Pensou no dito tempo, em todos os dias que aquela cidade já viveu. Pensou em todas as revoltas e festas, nos beijos e abraços e também em seus amores. Até tentou cantar um daqueles seus velhos versos, mas calou-se e abriu um sorriso desde o canto da boca. “És um tolo, relojoeiro infeliz. Precisa de mais dias ao lado dos poetas ou das mulheres. Vá, e só depois me diga se o tempo é ou não constante; se as horas do seu maldito cronômetro correm da mesma forma em todos os momentos.”





Comentem, por favor.

domingo, 13 de março de 2011

Valeu, Lobão!

Para quem ainda não ouviu, aí está o áudio do Lobão, na Jovem Pan, criticando Luan Santana, Fiuk, Restart... Ouçam e comentem!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Mochilão Argentina, Chile e Peru [IX]


Salta, La Linda! Assim é chamada a cidade argentina onde ficamos. As primeiras impressões não confirmaram toda esta expectativa, pois havíamos visto apenas uma área periférica da cidade. Quando chegamos em Salta, pensávamos em encontrar Fernando, o cara que nos havia levado até o hostal em nossa primeira passagem por Salta, e, enquanto discutíamos no saguão do terminal, eis que ele aparece! Contamos por onde havíamos passado e ele nos guiou - juntamente com alguns brasileiros que haviam viajado no mesmo ônibus que o nosso desde San Pedro - até o Hostal La Reyna. O proprietário é um senhor muitíssimo simpático, torcedor do River Plate e entendedor de futebol, pois quando falei do meu time ele já o identificou como sendo o atual Campeão da América! Falamos para os brasileiros que iríamos jantar em algum lugar próximo e saímos sozinhos. Caminhamos umas quatro quadras, até a altura do terminal, e acabamos voltando sem ter encontrado nada. Logo, acompanhamos os brasileiros em uns quarenta minutos a pé até a famosa rua Balcarces para encontrar onde comer. E, de fato, encontramos um ótimo lugar.
          Estávamos muito ansiosos para voltar ao Brasil. Nosso vôo sairia as 13h, e pelas 11h já estávamos no aeroporto. Todos felizes na fila para o check-in, tudo tranquilo, até que, quando chegou nossa vez, o atendente falou que o vôo havia sido cancelado. Argumentamos com ele para saber se existia a possibilidade de voltarmos em outra companhia, mas era impossível. Falamos e falamos. Segundo ele, a companhia havia tentado nos contatar por todo o dia anterior, só não sabíamos como, pois eles até tinham nossos emails, porém nada havia chego neles. Depois de alguma discussão, fomos transferidos com muitos outros passageiros para um hotel na Avenida Belgrano, no centro de Salta. E que hotel! Seria de longe nossa melhor hospedagem em toda a viagem. Usamos a piscina, a sauna (um horror), a academia e jogamos muuuuuito ping-pong. A tarde conhecemos a belíssima igreja de San Francisco, colada à Plaza 9 de Julio. Pela noite, andamos pelo centro e bebemos um vinho para comemorar a viagem. Compramos chaveiros, alpargatas, mais artesanatos de alpaca... O centro de Salta é muito bonito e organizado. Agora sim, confirmamos o apelido de La Linda.
          No outro dia, depois de um belo café-da-manhã, o ônibus da companhia aérea já nos esperava. Voltamos até o aeroporto e fizemos todos os trâmites de embarque. Nosso destino era Puerto Iguazu, na fronteira com o Brasil. E assim embarcamos em direção ao nosso querido país. Depois de quase duas horas de viagem aterrisamos - com alguns sustos - e corremos para encontrar nossas mochilas; pegamos um táxi até a aduana argentina, de onde seguimos a pé. Passamos pelo controle de fronteira e carimbamos os passaportes com a saída argentina. Mais alguns metros e chegamos ao Duty Free Shopping. Depois de uns vinte minutos de espera chegou nossa carona - meu pai - de volta à Quedas do Iguaçu! E assim, depois de dezenove dias de viagem, nosso mochilão se encerraria.

domingo, 6 de março de 2011

Mochilão Argentina, Chile e Peru [VIII]


San Pedro de Atacama é sensacional! Não canso de dizer isso. No dia de nossa chegada, acordamos bem cedo para aproveitar o vilarejo ao máximo; tivemos um belo desayuno e fomos procurar uma empresa de turismo para conhecermos as redondezas de San Pedro. Nossos planos de volta acabavam por moldarem-se às circunstâncias. Por exemplo, não haviam ônibus disponíveis para a data que queríamos e, portanto, ficaríamos mais um dia, totalizando três. Corremos pra tudo quanto é lado da cidade em busca de preços e horários das excurções à locais como Laguna Cejar e Laguna Miscanti. Com os horários em mãos, corremos atrás da alternativa menos penosa que as 23 horas de ônibus do trajeto Salta-Puerto Iguazu para pegarmos o caminho de volta. A mulher da companhia de ônibus nos falou da companhia de aviação Andes. No hostal, pesquisamos e haviam três assentos disponíveis para o dia que queríamos por um preço muito bom; aí corremos pra uma lan house, onde havia impressora - para o caso de imprimirmos as passagens pela net - e fomos para o site da Andes novamente. Mas como nada é tão simples nesse mundão, aconteceu que o site não indicava mais assentos livres; fomos então até um call center e ligamos para esta tal de Andes. Imaginem só: meu espanhol é fraco pessoalmente, por telefone então fica bem complicado. Mas assim mesmo nos entendemos com o vendedor de passagens e ele falou que haviam assentos disponíveis sim, e nos passou um email para enviarmos os nossos dados para ele. Voltamos à lan house outra vez e, tentando comprar as passagens, surpresa, funcionou!
          Ficamos felizes: voltaríamos para casa antes do previsto e com muito mais tranquilidade. Depois disso fomos até uma agência chamada Corvatsch para comprarmos os passeios em San Pedro. Marcamos um para aquela tarde até a Laguna Cejar e, para a outra manhã, compramos um pacote até as Lagunas Altiplanicas. Arrumamos a mochila com bastante água, protetor solar e toalha. As quatro horas da tarde partimos para o passeio da Laguna Cejar numa van cheia de chilenos. E não poderia ter sido melhor. Chegamos na tal lagoa Cejar e descobrimos que ela tem 30% de sal e, assim, a gente não afunda!! É uma experiência muito legal. Este lugar possui 36 metros de profundidade e é como uma cratera. As bordas tem sal cristalizado que cortam se você pisar com força ou escorregar neles. Mais tarde, depois que fomos devidamente lavamos com água doce, embarcamos na van e fomos conhecer os Ojos del Salar, outras duas crateras no Atacama, mas desta vez de água doce. Doce e gelaaaaaaaaaaaaada! Depois de muita insistência do Fábio pulei naquela água - no caso, tinha um barrando de uns dois metros - e, logo após, pulou ele com uns gritos. Quando saímos para tremer no vento, caminhamos até a van e nos secamos; mais algum tempo e todo mundo voltou e seguimos para ver o pôr do Sol, os flamingos e tomar pisco nas Lagunas Miscanti e Miñiques, que nesta época do ano estão quase que completamente cobertas de sal. Como bons brasileiros tentamos chegar perto dos flamingos, que começaram a andar em círculos - momento em que recuamos percebendo a investida do animal - e levantaram vôo (colocarei a foto deste raro episódio). A volta para San Pedro foi muito animada e na lembrança fica o belo entardecer com o vulcão Licancabur na paisagem.
          Pela noite tomamos vinho no hostal e dormimos. Deveríamos sair as 08 horas da manhã para o passio. E, de fato, acordamos antes do horário e tomamos café. Enquanto aguardávamos na frente do hostal, o dono chegou e falou que já haviam passado ali procurando três pessoas. Conferimos nossos bilhetes dos pacotes e, desgraçaaaaaaaaaaaada a mulher que nos vendeu e nos confundiu o horário, pois deveríamos ter saído as 07!!!!! Que raiva. Que raiva. Que raiva. Quando fomos pedir se era possível reembolsar o valor do pacote na agência - e que valor salgado - ouvimos um: Chicos, só me trazem problemas!! Mas não é possível. E assim ficamos sem passeio e sem o dinheiro. Mas não desanimamos, nada poderia nos abater depois dos três dias do Caminho Inca. Pela tarde alugamos bicicletas e pranchas de sandboard. Pedimos algumas indicações de onde ficava o lugar pra praticar o tal esporte e nos mandaram para o Valle de la Muerte. O nome não é muito inspirador, mas pedalamos até lá com a prancha atravessada entre a mochila e as costas. Pedalamos e pedalamos até encontramos uma duna. Depois de algumas tentativas de descê-la, descobrimos por meio de algumas pessoas que passavam que aquele não era o tal vale, e sim um local uma hora à frente. Porém, havia uma grande duna uns 200 metros adiante onde poderíamos brincar muito. Escondemos as bicicletas - por que andar com elas na areia é impossível - e seguimos pelo caminho; e assim encontramos a cuja! Que duna! Eu nunca tinha visto uma duna (aquela anterior não era uma duna propriamente dita)! É muuuuuito cansativo subir até a crista dela, e dá um medo lascado quando você desce e começa a pegar velocidade. Já muertos de tanto subir e descer naquele monte de areia, encontramos nossas bicicletas e voltamos para San Pedro. Este era nosso último dia lá. Na próxima manhã pegaríamos um ônibus da Andesmar para cruzarmos a cordilheira novamente e voltamos à Salta, na Argentina.

Continua.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Mochilão Argentina, Chile e Peru [VII]


Arequipa outra vez. Chegar de dia nesta cidade nos deu uma impressão muito melhor sobre ela. Quando ainda estávamos viajando para Cusco e passamos por ela, havíamos chego a noite e tudo estava muito tumultuado na rodoviária. Porém, nesta segunda oportunidade tomamos um táxi até o aeroporto, longe dali. Pudemos ver a bonita cidade com um pouco mais de tempo. O que mais impressiona é o vulcão El Misti, imenso e magnífico na paisagem. Arequipa é conhecida como a ciudad blanca, pois muitas de suas construções são feitas com uma pedra de origem vulcânica chamada sillar, deixando tudo com uma cor - adivinhem - branca.
          No aeroporto tivemos muito tempo para fazer nada. Nosso vôo saía as 12:40h, e estávamos por lá as 08h. Neste meio tempo fizemos o check-in e passamos pela revista da polícia peruana. Perguntaram várias coisas, reviraram as bagagens e passaram os cães pra farejarem tudo. O maior pesar deste momento foi quando, na hora de entrar no salão de embarque, enquanto passávamos pela revista das bagagens de mão, nosso amigo Fábio teve remédios e protetor solar confiscados. Ficou muito, mas muito puto. Desejou que morressem. Ensandecido, desejou também um "sisminho". Porém, o pessoal da segurança não morreu e tampouco houve um terremoto. Depois de mais espera conhecemos a máquina que nos levaria, primeiramente, até Arica - já Chile, para fazer a alfândega - e depois para Iquique. Com a chamada da empresa, caminhamos até o avião. Eu nunca havia voado, e esta primeira experiência foi muuuuuito massa!!!! Que coisa mais legal isso. No começo ele acelera, acelera, acelera pacas, e depois desgruda do chão. Vimos Arequipa do alto - que pode ser conferida na foto acima - e também o poderoso Misti. A viagem durou pouquíssimo tempo. Tudo o que demoraríamos 6 ou 7 horas de ônibus, fizemos com 20 minutos. Em Arica tivemos de descer com toda nossa bagagem, passá-las nas máquinas de raio-x e carimbar nossos passaportes com a entrada chilena.
          Embarcamos novamente e era minha vez de ir com estranhos no banco. Ao meu lado sentou um chileno. Tinha cerca de 40 anos, era um pouco gordo e baixo também. Pediu se eu tinha um pano. Falei que não, pois geralmente não levo panos em viagens de avião. Então ele tirou uma garrafa de bebida e usou a camiseta mesmo para abrir (no lugar do pano). Me ofereceu um pouco, falou que era "catchaça". Vale dizer que não é permitido beber dentro do avião! Para passar por cima de outra proibição, puxou o celular e ligou pro Juan Carlos:
          - Juan Carlos! Juan Carlos! Sou eu. Vou chegar em Iquique em 30 minutos. Tive problemas na aduana de Arica, você sabe por quê, não posso falar agora!
          Que beleza! Sabe-se lá Deus o que este cara tinha para dar problema com a polícia. O importante é que dormiu depois que a aeromoça obrigou ele a desligar o celular, pois o avião estava quase decolando. Outra vez o avião acelerou, acelerou eeeeee uhuuuuuuuuuuuuuuuuullll!!! Muito loco! Mais algum tempo de vôo e fizemos conexão em Iquique. Enquanto voávamos pudemos ver o Oceano Pacífico. Depois de Iquique embarcamos para Antofagasta, e de lá para Calama, onde chegamos tarde da noite. Sabíamos que havia um último ônibus de Calama para San Pedro de Atacama - para onde queríamos ir - naquele mesmo dia as 11 horas da noite. Quando chegamos no aeroporto, era quase isto, e tivemos de correr pra achar um táxi. Encontramos um muito bom. No começo pensamos que era um golpe, que o cara não era taxista e iria nos roubar, mas ele foi extremamente gente boa e até ligou para um outro terminal de ônibus para ver ser o tal que iria para San Pedro já havia passado por lá.
          Por sorte, o ônibus ainda não havia pego algumas outras pessoas num pequeno ponto, e ficamos aguardando naquele local. Quando ele chegou, entramos com toda a bagagem dentro, pois havia pouquíssima gente lá. Com uma hora e meia de viagem chegamos em San Pedro e andamos bastante até encontrar um hostal por um bom preço. Ficamos no Chiloé desta vez. Estávamos felizes por voltar inteiros ao Chile e ansiosos para conhecer mais do belíssimo Atacama.

Continua.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Mochilão Argentina, Chile e Peru [VI]


Quando pequeno, vi em uma apostila da escola alguma coisa sobre Machu Picchu. E aquela foto clássica - a mesma que coloquei aqui no post, tirada por nós - ficou na minha mente. Imaginem então como foi ver a Cidade Sagrada tão de perto. As fotos não conseguem dar a real impressão de tamanho. Olhando assim, muitas vezes parece que é pequena, algumas casas de pedra, etc. Mas aquilo é muito grande; uma cidade inteira! No ano de 2006, a American Society of Civil Engineers reconheceu Machu Picchu como obra maestra de planejamento urbano, edificação, e construção de trilhas e passeios; ilustrando os avanços em engenharia civil, hidráulica e geotécnicos do povo Inca. Isso demonstra a grandiosidade desta construção. Após chegarmos, fomos até a entrada da cidade. Lá carimbamos nossos passaportes com o símbolo do parque e aguardamos o grupo se reunir. Fizemos uma visita guiada pela cidade, com duração de quase duas horas. Depois disso tínhamos todo o dia livre para andar pelo complexo de Machu Picchu, até as 17 horas, que é o fechamento do parque.
          Caminhamos até a Casa do Guardião, de onde são tiradas as fotos clássicas - uma das quais pode ser vista no canto superior direito deste post. Subindo até lá encontramos lhamas! Uma família lhama, na verdade. Que bicho esquisito! É grande, faz um barulho estranho e cospe nas pessoas se alguém chega muito perto. Mas tem sua beleza. Pudemos ver também boa parte do sistema de drenagem da água da chuva na cidade. Acredito que esta seja uma das explicações de por que o local se conservou por tanto tempo. Em vários pontos há uma espécie de canal, feito de pedras, levando a água para as saídas. Além disso, a grande conquista da engenharia inca é a inclinação dos edificios. As paredes inclinam-se 13 graus para dentro, tornando, assim, a construção à prova de abalos sísmicos. Esta era uma condição quase que necessária para o local, pois Machu Picchu encontra-se em uma região de terremotos, como boa parte do Peru.
          Depois de muito andar e tirar fotos do local, compramos passagens de ônibus até Águas Calientes, uma cidadezinha turística as margens do Urubamba. Há ônibus saindo a todo instante. Eles descem zigue-zagueando o morro até cruzar o furioso rio lá embaixo, demorando cerca de meia hora neste trajeto. Quando chegamos em Águas Calientes andamos bastante até encontrar um hostal. Decidimos ficar com um baratinho. Apenas foi necessário fazer algum ou outro ajuste, como por exemplo encontrar algo para travar as janelas do quarto, que abriam por fora. Mas nada que um pedaço de madeira e uns dois tubos de protetor solar não resolvam. Feito isto fomos conhecer o que dá nome a cidade: as aguas calientes. No caso, são algumas piscinas termais no alto da cidade. Pagamos 10 soles por pessoa e alugamos toalhas. Não foi aqueeeeela experiência, mas foi bom para saber como é a coisa toda.
          A noite tomamos uma Cusqueña e saímos para jantar. Perambulamos pela cidade e, mais tarde, voltamos ao hostal para dormir, pois na próxima manhã tomaríamos o trem de volta para Ollantaytambo. Assim, no outro dia, depois da lenta viagem de trem, chegamos em Ollantaytambo e encontramos uma van, paga pela companhia que nos vendeu o pacote do Caminha Inca, que nos levou novamente até Cusco. Fiz a viagem mais perigosa de toda a minha vida! O motorista, um senhor magrinho de uns 50 anos, sentava o pau na van e ultrapassava em qualquer lugar. Depois de muitos sustos, chegamos em Cusco e voltamos até o hostal para pegar o restante da bagagem. Jantamos e aguardamos até a noite para tomar um ônibus para Arequipa, de onde pegaríamos um avião de volta ao Chile.

Continua.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Mochilão Argentina, Chile e Peru [V]


Quando embarcamos no pequeno ônibus em frente a catedral na Plaza de Armas, não era possível sequer imaginar tudo aquilo que veríamos. Nosso trajeto demorou cerca de uma hora e meia até a cidadezinha chamada Ollantaytambo - o último ponto alcançado pelos espanhóis. Com uma rápida parada compramos bastões de caminhadas que, apesar da resistência de alguns na compra dos mesmos, mostraram-se absolutamente úteis nos dias de caminhada. Mais algum tempo de viagem e chegamos até o famoso KM. 82. O nome deve-se a linha férrea do trajeto Cusco-Águas Calientes. Neste ponto organizamos nossas mochilas para carregar os sacos de dormir. Fomos, mais tarde, divididos em dois grupos: Condor e Apu. Nós ficamos no Condor. Almoçamos com todo o grupo e conhecemos alguns argentinos. Pediram da Dilma, do futebol e de outras coisas. Depois de algumas explicações, finalmente colocamos nossas mochilas e descemos até o ponto de controle as margens do raivoso Rio Urubamba. Feita a checagem dos documentos, cruzamos a ponte sobre o Urubamba e finalmente iniciamos a tão aguardada trilha, objetivo de nossa viagem.
          O Caminho Inca, ou Trilha Inca, é um caminho restaurado que os incas usavam como peregrinação até a cidade sagrada de Machu Picchu. São quatro dias de caminhada até lá. O local encontra-se numa altitude consideravelmente alta, especialmente no segundo dia, onde caminhamos até a passagem de Warmi Wañuska, a 4215 metros acima do nível do mar. O primeiro dia de caminhada foi impressionante. Vimos montanhas!!! Quando as olhava por fotos, não conseguia ter a dimensão do que são. É quase impossível tentar descrever, mas são impressionantes. No caminho é possível ver alguns picos nevados também. A civilização Inca acreditava que espíritos habitavam as montanhas e, algumas delas em especial, chamadas de Apus, eram consideradas protetoras de cidades ou lugares. Como eu disse para alguns que me perguntaram da viagem: lá é possível compreender por que aquele povo cultuava as montanhas. É algo gigantesco, absurdo. É possível sentir uma energia diferente no local. Observar as montanhas, serenamente postadas na paisagem, vale pelos quilômetros de caminhada.
          Outro local que chama atenção é Phuyupatamarca. De lá, se não houvesse tanta neblina, seria possível encarar uma série de montanhas. O segundo dia de caminhada foi o que mais nos deu trabalho. Foram cerca de 7 horas de trilha, sendo que talvez 5 destas foram de subida. Antes de chegar na passagem de Warmi Wañuska há uma escadaria que corta o morro. Neste ponto já estávamos muito cansados e quando vimos o que ainda nos esperava... ficamos tristes :B Mas que nada! Chegar lá em cima é uma conquista.
          No quarto e último dia acordamos muito cedo: 3:30h da madrugada! Isto por que nos despediríamos dos porteadores - nativos que carregam provisões e tendas que utilizamos - e eles necessitavam tomar um trem as 05h. Além disso, precisávamos tomar café-da-manhã muito cedo para, quando o Sol saísse, tomar o caminho até Machu Picchu. E assim o fizemos. Caminhamos até Inti Punku, a Porta do Sol, por onde, olhando desde Machu Picchu, o Sol nasce nos equinócios de primavera e outono. Depois de uma olhada no local iniciamos a descida até a tão aguardada Cidade Sagrada. No caminho achamos até alguns brasileiros filmando o local clandestinamente para a TV (ê Brasil!). Encontramos as primeiras lhamas também!
          Quem faz o Caminho Inca chega em Machu Picchu por um local elevado, de onde se pode ver a cidade de cima. Nesta época do ano há muita neblina nas primeiras horas da manhã. Mas o destino nos reservou algo impressionante: quando chegamos no local a neblina começou a se dissipar e pudemos ver a cidade! Eu me emocionei, sempre quis conhecer este lugar e, justamente naquele momento, depois de quilômetros e quilômetros andados, eu a vi: Machu Picchu!

Continua.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mochilão Argentina, Chile e Peru [IV]


A chegada em Cusco foi um pouco estressante, pelo menos pra mim, devido ao episódio da mochila. Eram 06h da manhã quando descemos do ônibus. Dali mesmo um homem que estava no segundo piso do terminal chamou por nossos nomes. Era William, que viera do hostal - onde já havíamos feitos reservas desde Tacna - para nos buscar. Pedimos que aguardasse e fomos no bagageiro pegar nossas coisas, mas a minha bagagem não apareceu. Eu carregava duas mochilas: uma pequena, sempre comigo, até mesmo dentro do ônibus, com água, cabos da câmera, passagens, etc; e outra, grande, onde estava todas as minhas roupas, equipamento para o Caminho Inca, livros, lanterna... Perderam justamente esta última. A empresa até tentou ligar para Arequipa, de onde havíamos saído, e perguntaram sobre onde poderia estar. Aguardamos um segundo ônibus da empresa que estava chegando em cusco. Disseram que a mochila poderia estar neste outro. Não estava. Conversamos com o pessoal da empresa e pediram que retornássemos a tarde. Voltamos as 16:30h, e, outra vez, deveríamos voltar as 19h para conversar com a administradora. Quando finalmente conseguimos conversar, falaram que ligaram para Lima, Tacna, e outras possibilidades, mas minha mochila não fora encontrada. Então, ofereceram 500 soles - cada nuevo sol equivale a R$ 0,65 - como reembolso pelo extravio das minhas coisas. Não aceitei, pois o valor era muito baixo e tentei negociar. Queria pelo menos 1000 soles, mas a mulher se recusou a pagar e pediu que voltássemos no outro dia com uma lista dos itens da minha bagagem. Depois disso fomos até a polícia, que nos recebeu muito bem, mas explicou que até poderíamos fazer uma queixa e tudo mais, porém, como tudo é muito burocrático, a empresa se aproveitaria de nossa falta de tempo e apenas nos enrolaria. Quanto a mim, não poderia esperar mais que dois dias, pois iniciaríamos o Caminho Inca na manhã do dia 11 de Janeiro e precisava comprar roupas.
          No outro dia, de lista em mãos - onde minhas coisas estavam verdareiramente avaliadas -, voltamos ao terminal. Conversamos com a administradora da companhia e expliquei que não estava colocando na lista nenhum notebook ou câmeras para superestimar o valor. E, de fato, havia listado somente o que havia perdido, nada além. Ela ligou para Lima, que é a sede da empresa, e explicou para uma outra pessoa a situação. Minha proposta continuava nos 1000 soles. Eles acabaram me oferecendo 800. Chorei um pouco e insisti em algum valor mais alto, pois realmente não tinha mais nada. Porém, diante da situação, aceitei os 800 e saí feliz. Foi o maior contratempo de uma viagem maravilhosa.
          A cidade de Cusco é fantástica. O centro histórico é muito bonito. Sua Plaza de Armas é cercada por igrejas antigas, lojas, bares e restaurantes. Tudo é muito turístico. Parado na calçada, em pouco tempo você consegue ouvir várias línguas diferentes. Nosso hostal era bem localizado, ficando a uma quadra da Avenida El Sol e três da Praça de Armas. Nesta cidade experimentamos a cerveja Cusqueña. Na minha opinião, uma das melhores que conheço. Embora os peruanos não bebam a cerveja muito gelada - na verdade, é quase em temperatura ambiente - esta aí surpreendeu. Deixaria saudades, pois na volta beberíamos a chilena Escudo, uma desgraça total.
          Depois de dois dias conhecendo a cidade, compramos as passagens de volta - desta vez de avião, desde Arequipa até Calama, no Chile - e nos preparamos para a Trilha. Arrumamos nossas mochilas na noite do dia 10 e deixamos tudo pronto. Compramos também comida em um mercado próximo a Praça de Armas para que pudéssemos ter alguma coisa entre as refeições principais. O dia 11 amanheceu gelado e chuvoso. Um homem apareceu no nosso hostal e disse que deveríamos ir até a catedral para pegar o micro-ônibus até o km 82 (início do Caminho Inca). Foi a primeira vez que utilizamos nossas capas de chuva. Algum tempo depois, nosso transporte finalmente chegou e embarcamos para os 4 dias mais sofridos e recompensadores que já passei.

Continua.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Mochilão Argentina, Chile e Peru [III]


Logo que entramos no terminal de táxis encontramos a senhora Angela, que pilotaria nosso táxi até Tacna. Entramos no táxi e esperamos tudo ficar pronto. Depois que saímos pudemos ver o Oceano Pacífico. A cidade de Arica fica na divisa com o Peru, e de lá seguiríamos para a cidade de Tacna, do outro lado da fronteira. No Peru tem-se uma diferença de 2 horas a menos com relação ao Chile (-3 com o Brasil), e, portanto, quando chegamos no posto de fronteira de Tacna foi necessário aguardar algum tempo até que este abrisse. Depois de todos os trâmites alfandegários concluídos, seguimos viagem por uma paisagem desolada. Contudo, no caminho havia muitas pequenas casas, feitas de tijolos de cimento e cobertas com uma espécie de palha. Perguntei à Angela o que aquilo, e fiquei sabendo que estes são o equivalente do nosso MST. E, sim, eles invadem aquele lugar para agricultura.
          Chegamos no terminal de Tacna muito cedo, e logo fomos trocar alguns dólares por Nuevos Soles; tudo isso com a companhia da taxista que insistia em nos ajudar. Fomos até a parte superior do terminal para tomar café. E lá ficamos ouvindo ela dizer que no Peru tudo é muito perigoso, para tomar um cuidado extremo, etc. Passado algum tempo um homem vem e fala algo com ela; os dois trocam algumas palavras e ela nos olha e diz: "já estão seguindo vocês". Que ótimo! Depois ela nos levou até uma agência de viagem e pediu que ficássemos lá dentro, aguardando o ônibus. Compramos passagens para Arequipa, e de lá para Cusco. Também já conseguimos reservar um hostal em Cusco. Depois de passar alguma apreensão com Angela, concluímos que ela queria assegurar que comprássemos passagens numa companhia que lhe desse um pagamento por ter nos levado até lá. Lições.
          Seguimos para la ciudad blanca de Arequipa ao meio-dia com o apertado ônibus da empresa Flores. Foi uma viagem também muito cansativa e cheia de paradas. A estrada neste trajeto era muito bem conservada, mas dava medo. Cortamos montanhas e passamos por abismos. A paisagem, ainda bem, compensou tudo isso: haviam vales muito bonitos e, chegando à Arequipa, tivemos a primeira visto do vulcão El Misti. Simplesmente fantástico! É diferente de tudo o que já vi; muito maior que em fotos ou qualquer outra coisa. Já na cidade, fomos deixados no terminal desta empresa Flores, e de lá tivemos de atravessar correndo uma caótica avenida para chegarmos no terminal correto, onde mais tarde embarcaríamos para Cusco. Este outro terminal era uma loucura. Gente pra tudo quanto é lado, atendentes gritando, filas e mais filas para qualquer coisa... Comemos alguns sanduíches e depois pagamos para enfrentar outra fila no banheiro. E o bom destes banheiros é que você paga (1 nuevo sol, no caso) e ganha 40 centímetros de papel higiênico! :D
          Depois de muita espera e uma Coca-Cola, finalmente chegou nosso ônibus! Deixamos nossas coisas aonde se vendem os bilhetes da empresa CIVA - que foi a empresa que nos transportou no trajeto Arequipa-Cusco - e entramos no ônibus. Maldita hora! Me arrependo de não ter ficado conferindo se minha bagagem realmente era embarcada no ônibus. Descobriria mais tarde, na outra manhã, já em Cusco, que minha mochila tinha ido embora para muito, muito longe, e nunca mais seria vista.

Continua.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Mochilão Argentina, Chile e Peru [II]


Depois de poucas horas de sono no hostal em Salta, fomos para o terminal aguardar o ônibus até San Pedro de Atacama. Embarcamos as 07h. No caminho, perto da cidade de San Salvador de Jujuy, muitas pessoas ficavam nas margens da rodovia aguardando os carros do Dakar passarem. Passamos pela localidade Purmamarca, aos pés da Serra das Sete Cores, que são algumas colinas vermelhas, verdes, roxas... enfim, as cores são 7! :B
          Depois de algumas horas de viagem e um pouco de afliação ao passar ao lado dos abismos dos Andes ao subir a cadeia de montanhas, chegamos ao posto de fronteira chamado Paso de Jama, na fronteira da Argentina com o Chile. Tudo estava muito lotado devido ao Rally Dakar e ficamos cerca de três horas aguardando. O maior problema disso - ao menos para mim - foi o fato de Paso de Jama estar a 4300 metros acima do nível do mar. Logo, eu, que não estava acostumado com a altitude, fiquei um pouco mal. Mas tudo bem, horas mais tarde seria apresentado à (praticamente santa) coca! Aí tudo correu tranquilamente, fiquei de boa! Enquanto não provava aquela que no es muy rica, pero ayuda, as impressões do Atacama foram marcantes. É um local muito, mas muito mais desolado e vasto do que se imagina. Mais algumas horas de viagens e teríamos o privilégio de ver o vulcão Licancabur pela primeira vez. Impõem respeito, estes vulcões...
          Quando desembarcamos em San Pedro de Atacama, tivemos de passar todo nosso equipamento em uma máquina de raio-x. Já era tarde, mas só então pudemos ir atrás de um hostal. Sempre procurando pela rua Caracoles - que, segundo meu guia de viagem, que ainda tinha comigo nesta época, era a principal do povoado -, encontramos o Hostal Lomas Sanchez. O preço estava meio salgado, mas depois de ficarmos sem mais opções e conseguir a proeza de um desconto no Chile, mesmo que mínimo, pagamos por um quarto triplo. E valeu a pena! Ganhei um mate de coca e o quarto era excelente. Dormimos bem e no outro dia pela manhã saímos para conhecer a cidade e comprar passagens para Arica, nossa próxima parada. A cidade é pequena, mas muito aconchegante. O clima, apesar de quente, é seco e tem um vento que faz diminuir a sensação térmica, tornando tudo muito agradável. Depois de pedir informação fomos até a agência da TurBus, tentar comprar as passagens. A princípio, haviam vagas no ônibus. Tudo tranquilo. Voltamos para trocar dólares por pesos chilenos e tomar café no hostal. Quando retornamos à TurBus, tudo já estava vendido! A solução só veio depois de muita espera em frente a agência da Frontera Del Norte: compramos passagens até Calama, e de lá até Arica.
          Este trecho foi cansativo demais. Fizemos a noite, chegando em Arica as 06h da manhã. Quase não consegui dormir na viagem: havia um gato miando e uma criança que não parava de berrar. Na cidade de Arica tivemos de pagar para usar o banheiro da rodoviária e depois procurar um táxi para cruzarmos a fronteira com o Peru.

Continua.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Mochilão Argentina, Chile e Peru [I]


A primeira ideia que se transforma em realidade! Sim, nossa viagem por três países da América Latina. Depois de cinco meses de planejamento, pesquisas e leituras, partimos (no caso, Eu, Pietro e Fábio), de mochilas nas costas, para Cusco, no Peru. O objetivo principal era caminhar os quatro dias da Trilha Inca, até as ruínas de Machu Picchu. Conseguimos. Quero agradecer aos meus parceiros de viagem pela insistência e colaboração para alcançarmos este sonho.
          Tudo começou em 03 de Janeiro, quando pegamos um ônibus em Puerto Iguazu, na Argentina. Partimos as 21:00h e chegamos em San Miguel de Tucuman quando o relógio já apontava além das 19h do dia 04. Havíamos comprado as passagens do trecho Tucuman-Salta com antecedência, e deveríamos estar na rodoviária as 19:30h. Porém, o ônibus resolveu dar um passeio por uma espécie de oficina na entrada de Tucuman. O cara que atendia aos passageiros pulou lá pra fora enquanto o ônibus estava parado e foi fazer sabe lá Deus o que. Aí tive de aguentar uns brasileiros: Milton, vá lá ver por que estamos demorando... Milton, peça pro motorista pra ir rápido... No final, deu tudo certo. Chegamos em Salta a meia-noite, mortos de cansaço e de fome. Compramos alguns sanduíches no terminal e encontramos um senhor que nos levou até o hostal La Reyna; tomamos um banho e tivemos quatro horas de sono antes de pegar o ônibus que nos levaria Andes acima.

Continua.