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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Whisky e Maldições

Já passa muito da hora de dormir. O whisky assalta meus sentidos de uma só vez. Deixo-me levar, não demonstro resistência. Dois dias, se me lembro bem, sem descansar, sem pegar no sono. Uma mão, que julgo ser a minha, treme ao segurar a garrafa para servir mais bebida. O cigarro pendura-se nos dedos com sua fina coluna de fumaça em sinuosa escalada. Pensamentos me assombram, sufocam; sussurro palavras de forma quase inaudível: maldições às quatro da manhã.
          Rejeito toda a alegria do mundo; rejeito a clemência que podem sentir. Desejo apenas minha música; meu blues bem alto pra fazer o gelo no copo tremer. Que os homens padeçam diante da falsa promessa de salvação, mergulhem no sangue que escorre dos matadouros de suas crianças. Pagarão também os bons inocentes, pois o mal não fará distinção entre homicidas e santos. De minha parte, preferia estar no inferno, saudando Satã. Um brinde, amigo! Amaldiçoe a felicidade que me é negada. Faço um elogio à desordem da vida, à excentricidade de não saber que atitudes tomar, ao caos contido numa xícara de café, à embriaguez.
          Imagens do que um dia tive recusam morrer, insistem em não se dobrarem à minha ordem; escondem-se como um tormento e voltam em recordações frias. Não quero morrer em fraqueza, tampouco pretendia viver em lamento. Mas, pode a desesperança ser tomada como sobrevida? Um modo sinistro de atravessar os fatos, com certeza.
          Esforço-me para esquecer minha natureza humana. Uma origem cercada de frágeis sentimentos; insustentáveis como a fina linha da sanidade. Não posso suportar o amargo do amor: a pestilência dos homens; conjurado para levá-los à decadência. Pobre mundo que ainda vive em mentes mutiladas, cegas pela inverdade. Pretensões de bondade foram apagadas de mim, sepultadas por noites de inverno eterno. O luxo noturno anda pela casa, espalha o luto de sua escuridão e povoa as paredes com miseráveis fantasmas. Qualquer vontade de mudança é lavada pela mistura de água gelada e whisky que bebo aos poucos: goles fatais em direção à loucura.

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