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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Música e Saudades

Naquelas tardes de domingo, parávamos todos para ouvir a música da senhora que morava em frente a minha casa. Tocava um violoncelo desgastado pela recorrência de dedos habilidosos. Não possuía família, pelo menos não que soubéssemos. Morava sozinha, sem marido, filhos ou filhas. Passava a maior parte do tempo escrevendo sua música: notas e compassos de uma vida.
          Muitas vezes os sons cessavam, e a musicista encarava nossos olhos com um sorriso. Crianças enchiam sua varanda de madeira, todos sentados, hipnotizados pela doce melodia daquelas mãos e cordas. Nestes momentos alguém abria a boca para protestar, querendo mais música. Mas, como de costume, ela se levantava e ia até a cozinha, depois seus passos de volta anunciavam que teríamos bolo de milho e suco.
          Crescemos. Quando penso naqueles dias, alguns rostos me fogem a memória. Até mesmo o nome daquela mulher me parece impossível de ser lembrado, e por isso me culpo. Penso, as vezes, em nunca ter deixado sua varanda; ouvido mais de suas palavras e conselhos. Tempos depois, quando já não a tinha mais perto de mim, descobri que o tempo é implacável: fez daquela música mais uma doce lembrança. E assim foi, é e será; a vida embalada por canções.

Um comentário:

  1. Parabéns Lucas!
    Ganhou uma nova seguidora, mas eu já adimirava seu trabalho desde o inesquecível texto alerta sobre as "samambaias espiãs"
    Sempre acreditei na sua veia artística de escritor, hoje ao ler suas crônicas fiquei muito feliz em saber que você não mudou,talvez tenha mudado para melhor!
    Em 2015 a Marina entra finalmente, pra salvar o Brasil! Não desista ;D

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