Quando o vento gelado correu rápido pela rua, espalhou papéis e arrepios. Uma figura alta olhava o mundo de seu apartamento no momento em que, do outro lado da rua, perto de um grande lixeiro, a embalagem de seu novo sofá rodopiou pelo ar revelando uma pessoa, de débil aparência, deitada. Lá em baixo, o cimento ficou ainda mais frio, acordando-a. Lá em cima, a figura então percebeu que as roupas que vestiam aquele corpo já foram suas; havia doado-as na campanha de Natal. A criança que não mais dormia - sim, percebeu que era uma criança - correu para buscar algo para se cobrir; no caminho vasculhou o lixeiro. Do apartamento, o vulto que ainda observava tudo notou quando o que sobrara de seu jantar apareceu carregado pelas pequenas mãos.
No calor da residência algo aparece na tevê e o sujeito finalmente deixa a janela, pois o jogo de futebol está para começar. Quando o sofá rangeu com o peso e uma lata de cerveja espirrou, nem uma memória restava. Nada do que havia visto pulava para os olhos. Tudo seguia... Como sempre.
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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Mãos Frias, Mundo Frio
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