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domingo, 19 de dezembro de 2010

No Silêncio do Mar

Quando as amarras foram soltas e o barco ganhou mar, houveram lágrimas. Moças apinhavam-se no porto acenando àqueles que partiam. A embarcação fez uma ligeira manobra e mirou o oceano, de braços abertos para o destino. Içadas as velas, uma lufada de ar encheu-as, fazendo o cordame se retesar. O capitão, olhando por sobre o convés, fitava a linha onde os azuis se tocavam. Lá em baixo, correndo sobre o piso de tábuas da embarcação, as crianças brincavam mudas. Homens e mulheres, que já se faziam sentados, olhavam para o chão. Aquela era mais uma busca; uma procura às cegas. Alguns, mais afoitos, já encaravam o capitão, como se esperando alguma instrução sobre o que fazer.
          Horas ou dias se passaram; os passageiros acordaram com o tranco leve do casco ao tocar um banco areia. Avistaram o que devia ser a manhã de uma praia cercada de palmeiras. Desceram um bote e foram conhecer o local. Chegando mais perto, notaram uma figura em pé na areia. Dirigiram-se para lá e distinguiram um senhor de barba muito preta e roupas bem engomadas parado ali. O capitão se aproximou e tentou perguntar que lugar era aquele, mas as palavras não saíram. Mesmo sem pergunta, houve uma resposta nos olhos rasos daquele homem, e quando todos souberam que ali era a paragem para os corações vaidosos, alguns caminharam para além das palmeiras. Aqueles que ficaram retornaram para o barco e levantaram âncora.
          Novamente lançados em viagem ao fim do mundo e tocados pela perda dos amigos na ilha, os remanescentes fitavam a água passar ligeira em pequenas ondas e explodir no bojo do navio. Ali viam seus sonhos que há muito haviam desaparecido e seus amores perdidos; assistiam tudo perder-se em espuma branca e no vento salino. Não era surpresa para o comandante que tantos atiravam-se em busca do passado. Mais alguns dias de viagem e eles veriam uma ilha de rochas negras. Era quase impossível chegar até ali, não fosse por uma pequena enseada que terminava em praia de pedriscos igualmente escuros. Foram até lá e encontraram uma mulher. Usava um longo vestido branco e era absurdamente bela. Estendeu as mãos, mostrando um caminho que subia até o topo da ilha. Era estreito e serpenteava o negro das rochas. Uma passagem desprovida de virtudes, mas que traria conquistas e riquezas. Na volta para o barco, o capitão olhou para trás e contemplou aqueles que já caminhavam pela vereda. Tentou um adeus, mas aquela não era hora para fraquezas.
           No mar, a ausência das vozes marcava a viagem. O capitão quase adormecia em sua cabine quando o Sol brilhou no horizonte. Estavam chegando, pensou. Correu para avisar aqueles que ainda restavam no navio, mas não foi preciso; todos já estavam de pé, tentando até mesmo um sorriso. Depois de tanta tristeza e cicatrizes, era difícil levantar os olhos. Mas, mesmo ainda longe, cada alma sentia que aquele era o lugar certo.

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