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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Pensamentos de Um Suicida

Corri para o vazio e saltei; simples assim. Um pulo para encarar a verdade imutável do mundo, a certeza das gerações. Corto o ar como uma flecha, um projétil lançado contra o concreto. Um abraço carinhoso na morte que se aproxima, esguia e implacável. E por que haveria de ser diferente? Tive a coragem suficiente – ou a loucura, se é que há diferença – de tomar uma decisão; escolher o rumo da minha própria vida. Vida que não tem mais importância, o valor de tudo o que carregava foi perdido há muito tempo. Que a solução seja, então, este mergulho; único; um fim em si mesmo.
          É engraçado saber o que os suicidas pensam. As cenas de tristeza e desgraça não passam mais pela minha cabeça; só existe o sentimento de euforia, um veneno que corre pelas minhas veias impulsionado por um coração em disparada. Morrer, morrer, morrer! Mal posso esperar para provar isto, a única e a melhor saída. Sem mais escolhas agora, sem dúvidas. Apenas esta última reflexão. Sorrio com a situação e uma gargalhada fica para trás, reverberando na ruína do mundo.
          Problemas ficaram espalhados lá em cima, no parapeito do prédio, pois em minha decisão não há espaço para eles. O mundo, que antes se apresentava pequeninho lá em baixo, vai tomando forma, recuperando a nitidez horrorosa. Mas estou quase chegando; pelo menos vencerei esta barreira. Um impacto para despedaçar tudo o que já existiu. E isto significa algo: libertação.

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